O Custo da gratidão
Qual será o melhor método para se
ensinar a virtude da gratidão aos filhos? Haverá uma fórmula especial que dê
resultado garantido? Por vezes, o mais acertado provém de uma tomada de
atitude, que determina um período de reflexão. Mais ou menos como aconteceu com
aquele garoto aos seus 13 anos. Ele e o pai costumavam passear juntos aos
sábados. Nada espetacular.
Simplesmente uma ida ao parque,
ou à marina para olhar os barcos. Por vezes, uma visita em lojas de bugigangas,
só para comprar aparelhos eletrônicos baratos, para desmontá-los ao chegar em
casa e verificar seu sistema de funcionamento. Algumas vezes havia uma parada
na sorveteria. Randal nunca sabia se o pai iria ou não parar na sorveteria. Por
isso, esperava ansioso, na volta para casa, que o pai enveredasse por aquela
esquina decisiva. A esquina que significava animação e água na boca.
O pai do garoto, por vezes,
tomava o caminho mais longo. Dizia que era para mudar um pouco o trajeto. Em
verdade, parecia um jogo, onde ele ficava testando o autocontrole do filho.
Quando chegava na esquina, ele oferecia:
- Quer um sorvete de casquinha?
- Quer um sorvete de casquinha?
O garoto pedia sorvete de
chocolate, e o pai, de creme. Andavam devagar até o carro e ficavam saboreando
o sorvete. Para o garoto, aquilo era o paraíso. Certo dia, em que rumando para
casa, passavam pela esquina, o pai perguntou:
- E aí, quer um sorvete de casquinha hoje?
- Boa pedida! Disse Randal.
- Também acho, concordou o pai. Não quer pagar hoje?
- E aí, quer um sorvete de casquinha hoje?
- Boa pedida! Disse Randal.
- Também acho, concordou o pai. Não quer pagar hoje?
O sorvete custava então vinte
centavos. A cabeça de Randal começou a girar. Ele podia pagar. Ganhava uma
mesada semanal de vinte e cinco centavos, mais uns trocados por serviços
eventuais. Mas ele queria economizar. Economizar era importante. E, por se tratar
do seu dinheiro, Randal achou que sorvete não era um bom investimento. E aí ele
disse as palavras mais feias que podia ter dito naquele momento:
- Bom, nesse caso, acho que vou desistir.
- Bom, nesse caso, acho que vou desistir.
A resposta do pai foi lacônica.
Concordou e começou a andar em direção ao carro estacionado. Assim que fizeram
a curva a caminho de casa, o garoto percebeu o quanto estava errado. Como ele
pudera ser tão mesquinho? Seu pai já perdera a conta de quantos sorvetes lhe
pagara e ele nunca comprara nenhum para ele. Como ele pudera perder aquela
oportunidade rara de dar alguma coisa àquele pai tão generoso?
Pediu ao pai que voltasse. Em
vão. Randal ficou se sentindo péssimo por seu egoísmo, sua ingratidão. Foram
para casa. Aquela semana foi terrível, longa, angustiante. O pai não agiu como
se estivesse desapontado ou desiludido. Contudo, o garoto pensava e pensava. No
final de semana seguinte, quando fizeram o novo passeio, ele fez questão de
conduzir o pai até à sorveteria e lhe oferecer, sorrindo:
- Pai, quer um sorvete de casquinha hoje? Eu pago!
- Pai, quer um sorvete de casquinha hoje? Eu pago!
Naqueles dias, Randal aprendeu
que a generosidade tem mão dupla; que a gratidão algumas vezes custa um pouco
mais do que um simples "obrigado". No seu caso específico, lhe custou
vinte centavos. E lhe valeu uma lição para a vida.
No processo da educação, quase
sempre um gesto tem efeito mais poderoso do que muitas palavras. A sabedoria
está, para o educador, em saber usar as palavras certas, nos momentos adequados
e a utilizar a eloqüência do silêncio, nas horas precisas.
Muitos anos depois o filho já havia
crescido, estudado e se casado. E o pai esperava ansioso pelo passeio com o
filho no final de semana.Neste caso era o filho que o levava para passear e
tomar sorvete de creme na casquinha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário